domingo, 16 de outubro de 2016

A Amiga Genial

Na dúvida, decidi continuar e não me arrependi. Queiram muito descobrir e conhecer a Elena.

Sobre um domingo para a dissertação, à secretária

Entre tantas coisas, este poema:

A Festa do Silêncio

Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se de ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa, Volante Verde 1986

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A eternidade das desigualdades no ensino superior português


O acesso ao ensino superior tem sofrido alterações ao longo de décadas no que diz respeito ao próprio acesso e a percursos escolares diferenciados. As desigualdades sociais e escolares têm-se vindo a atenuar, embora continuem a ser uma realidade, nomeadamente neste nível de ensino. 
Enquanto aluna de licenciatura, verifico que a selectividade académica, baseada ainda que indirectamente nas origens sociais dos alunos, permanece e que a maioria dos alunos que frequentam este nível de ensino, provém de famílias com capital escolar e cultural elevado. Ora posto isto, parece-me que há que repensar e questionar as políticas previstas para o ensino superior. As desigualdades de acesso e percurso escolar, no ensino superior parecem persistir indiscutivelmente, obrigando à delineação de novas estratégias que permitam a sua inversão e eliminação. As entidades que têm como função a elaboração destas estratégias não estão a conseguir fazê-lo e isso é preocupante.
             Perante a importância de se concretizar uma formação superior, pela relevância que esta assume na vida profissional dos jovens e na evolução da ciência, a redução do insucesso a promoção do acesso ao ensino superior de forma igualitária, deveriam ser assumidos como uma prioridade, através de estratégias de intervenção eficazes. Considerando que a entrada para o ensino superior e a escolha da formação se trata de uma etapa difícil e decisiva na vida dos estudantes, numa situação de entrada num curso que não o desejado, deveria existir uma maior ajuda económica e psicossocial para a mudança de curso, sobretudo no que diz respeito a alunos com recursos económicos e culturais inferiores.
            Na redução do insucesso e do abandono, é oportuno referir também a importância da actuação dos dirigentes estudantis Ainda que as associações de estudantes se encontrem despolitizadas e pouco interventivas, estas deveriam assumir um papel preponderante na política educativa e na defesa dos direitos dos estudantes. É periodicamente feita uma reflexão entre estas e os membros das instituições universitárias (professores, alunos, reitores), mas parece ser insuficiente para a modificação de algumas medidas tomadas pelas universidades que podem propiciar o insucesso e o abandono. Na minha opinião poderiam contribuir mais ativamente para a boa integração académica dos estudantes, colocando em reflexão a democratização do ensino e desigualdades de acesso.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Violência psicológica e simbólica nas prisões

     Como é que é o quotidiano numa prisão? Como se processa a interacção entre prisioneiros, guardas, familiares dos prisioneiros e os directores? Quais é que são as regras e as sanções no caso do seu incumprimento e quais as privações? É verdade que os indivíduos podem "recuperar-se" numa prisão?  Foi com base neste leque de dúvidas que fui assistir a um debate, na Casa da Achada em Lisboa, no sábado. 
    Afinal as respostas estão tão próximas de nós e mesmos assim nós não as queremos encarar e envolvermo-nos emocionalmente com elas. Nas palavras do professor António Pedro Dores, " O problema das prisões é a produção social de desrespeito, da maldade e da mentira.". Isto significa, que tudo está errado naquela caixa: os indivíduos não se recuperam psicologicamente e emocionalmente e o problema que está por detrás do crime que cometeram não é resolvido e erradicado. Tudo se mantém como anteriormente, ou seja, os fenómenos da violência doméstica, pedofilia, homicídio, tráfico mantêm-se no seio da sociedade e os agressores, violadores, homicidas, traficantes são altamente desrespeitados enquanto seres humanos e absorvem nas prisões ideias, concepções, reflexões totalmente erradas e descontextualizadas.   
    Um episódio relatado pela Vera Silva que memorize,i talvez porque me tenha custado a crer, foi de que em determinadas prisões é permitido que os homens prisioneiros visitem as suas companheiras que também estejam presas noutra prisão mas o contrário é proibido. O mesmo se passa com o contacto com os filhos sendo que o pai os pode ver ocasionalmente e a mãe nem nesta condição. Ora aqui está vincadíssima a desigualdade de géneros, a diminuição clara da mulher. Os episódios de violência física e psicológica que se passaram e passam em muitas prisões dão origem muitas vezes a suicídios Há quem defenda o abolicionismo ou a justiça transformativa. Se um dia me tornar activista nesta causa muito provavelmente percorrerei o caminho da justiça transformativa. 
    O objectivo desta reflexão é despertar as consciências para a gravidade deste este fenómeno. O problema começa antes do encaminhamento para um estabelecimento prisional e é nesse problema que temos que intervir colectivamente para eliminá-lo com segurança. A prisão não é de todo um sinónimo de segurança e reabilitação. Este é o segredo social que encerrado nas prisões, que todos sabemos mas não queremos confrontarmos-nos com, ocultado pelo escândalo da revelação.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O estado actual da ciência: precária

     No passado dia 5 de Maio, fui a uma sessão aberta no ISCTE sobre as condições precárias em que se faz ciência hoje em dia em Portugal. Fiquei especialmente alarmada e escandalizada, com os dados que foram apresentados referentes aos investigadores que se encontram sem contractos laborais, dependendo de bolsas miseráveis para se dedicarem a projectos que em muito podem contribuir para o desenvolvimento de Portugal e da sociedade respectivamente. Ainda assim, aqueles que de facto têm contractos laborais, têm-nos mas em condições altamente débeis. Segundo Inês Farias, bolseira do IPMA, cerca de 70% dos investigadores encontra-se sob contractos precários.
     Como em tudo, mas focando-me nesta questão em particular, é claro que a nossa política está a implementar uma concepção economicista para a ciência para além de a desrespeitar enquanto contributo essencial. A "inovação cientifica" é actualmente o ponto central dos investimentos e não a ciência propriamente dita. Existe uma clara desprotecção dos desempregados nesta área profissional, bem como ,fortes desigualdades no seio da comunidade cientifica de que eu não me tinha apercebido. A titulo de exemplo, os bolseiros actualmente não têm poder de voto e observação dentro da sua comunidade. A falta de reconhecimento social pela comunidade científica, leva a que estas desigualdades se acentuem e a sua importância de dissipe a nível político. No entanto, simultaneamente, está a crescer o movimento de luta pelos direitos dos investigadores e de todos que desejam fazer ciência como profissão nomeadamente dentro dos precários inflexíveis. A esta luta alio-me porque reconheço o direito de investigar de forma digna e reconhecida. Atribuo uma importância singular à ciência, sem ela não haverá possibilidade e "pernas para o mundo e a sociedade caminharem".

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/universidade-de-lisboa-corta-bolsas-de-investigacao-1636110

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O problema das praxes no "Prós e Contras"

         Infelizmente só agora é que esta questão é trazida à baila como deve ser e levanta questões na cabeça das pessoas sobre a sua rotinização. Ontem a problemática das praxes foi discutida no Teatro Gil Vicente em Coimbra entre professores, alunos, adeptos e não do ritual de praxe académica. O que se passou ontem na minha opinião, excluindo a minha perspectiva face ao fenómeno praxista, foi muito desanimador suponho que para a população portuguesa em geral. Em primeiro lugar pelo horripilante discurso proferido por uma aluna "praxante" de Faro e em segundo lugar pelos comportamentos que foram adoptados durante todo o debate. Pois é, são estes jovens que falaram, que se estão a formar em Portugal. Agora tirem as vossas conclusões. Lamento profundamente que seja esta a juventude que está a crescer em Portugal desprovida de uma série de valores. Revelaram-se energúmenos. As piadas e os aplausos que ecoaram no teatro e interromperam as intervenções foram esclarecedores. Quando se falou em participação cívica ninguém teceu comentários. Por fim deixo aqui o link para quem queira rever ou ver pela primeira vez o conteúdo produzido sobre duas questões que me preocupam muito: É respeitada a dignidade humana seja no que for? Assegurará esta geração os direitos humanos e a democracia em Portugal?